Francisco Alvim 80 anos

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O poeta Francisco Alvim, que acaba de completar 80 anos, vem a São Paulo no próximo sábado (20/10) para participar do ciclo Vozes Versos: leituras de poesia. O encontro ocorre a partir das 11h, na Tapera Taperá, que fica na Galeria Metrópole (Av. São Luís, 187, 2º andar, loja 29, tel. 3151.3797).

Chico Alvim nasceu em Araxá (MG), em 1938. Trabalhou como diplomata durante quatro décadas. Estreou na poesia com o livro “Sol dos cegos”, em 1968, e lançou, desde então, os seguintes livros: “Passatempo” (Col. Frenesi, 1974), “Dia sim dia não” (com Eudoro Augusto, 1978), “Festa” (1981), “Lago, montanha” (1981), “Passatempo e outros poemas” (Col. Cantadas Literárias, 1981), “Poesias reunidas (1968-1988)” (Col. Claro Enigma, 1988), “Elefante” (2000), “Poemas (1968-2000)” (Col. Ás de Colete, 2000) e “O metro nenhum” (2011).

No encontro de sábado, será lançada uma plaquete artesanal, feita em linotipo pela Editora Quelônio, com uma antologia de poemas de todos os livros de Chico Alvim, selecionados por Heitor Ferraz Mello. A edição é limitada e, no encontro, será vendida a R$ 20,00.

O que é Vozes Versos?

Poetas contemporâneos lendo seus próprios poemas. Ou suas traduções de poesia. Inéditos ou de livros recém-lançados. Poetas daqui ou passando por aqui. Encontros simples, sem formalidade, em que poetas mostram, com suas vozes singulares, a poesia que estão escrevendo aqui e agora. Não é debate, não é sarau, não é palestra, não é outra coisa. É apenas um encontro: algumas vozes, alguns versos, e os ouvidos atentos de quem se interessa pelo que os poetas têm a dizer. É só chegar. E ouvir. O ciclo já reuniu, até aqui, mais de 40 poetas, todos eles também editados em plaquetes artesanais da Editora Quelônio, formando um amplo panorama da produção contemporânea.

As plaquetes podem ser adquiridas também pelo site www.quelonio.com.br.

A curadoria do ciclo é dos poetas Heitor Ferraz Mello e Tarso de Melo.

Entrada gratuita.

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CHICO ALVIM, 80 ANOS, por Heitor Ferraz Mello

 

Ocasião muito especial, receber aqui o Chico Alvim. O Chico inventou um procedimento poético que é só dele. Ele inventou uma maneira de lidar com uma tradição da poesia lírica brasileira, de recorte social, mas como que na contramão. Como ele mesmo já disse, o que era descoberta e alegria na poesia modernista, a fala brasileira, na poesia do Chico é um esgar. Um veneno. Um procedimento que envolve a fala, a prosódia brasileira, mas também elementos técnicos do verso, o tipo de corte, quase um gesto de fala, destacando a entonação de uma conversa, além da precisão na escolha dos entrechos – lembram aqueles momentos mais agudos machadianos, quando numa frase aparentemente engraçada ou aparentemente comum, toda uma relação de classe salta como um nervo exposto. E parece que dentro dessa técnica o Chico pode falar de qualquer assunto – o que foi ouvido, sentido, experimentado numa situação qualquer, de conforto ou desconforto etc.

Mas vale lembrar que sua poesia não é composta apenas por essas falas – essa epopeia fragmentada da vida brasileira flagrada por dentro da língua – mas também por aqueles poemas mais líricos, mais sentimentais e até mesmo mais clássicos (figuras da mitologia grega passeiam por seus livros, mas não como um mofo do passado, uma erudição livresca, mas que surgem rente a esse mesmo coro de vozes, como uma outra voz – arquetípica – que também está em nós; elas revivem nesses seus poemas, como que se atualizam nesse nosso mundo de pobres mortais). Há poemas que saltam como puro encantamento, como “Elefante”, com toda a sua potência e totalidade. Aqueles estados de alumbramento, tão raros, que redimensionam nossa vida diante de uma realidade marcada por uma cordialidade perversa. Esses momentos podem romper diante da visão deslumbrante de um elefante, ou de uma obra de arte, um quadro visto num museu, num livro ou num site.

Enfim, queria destacar esse elemento altamente inventivo da poesia de Chico, um poeta que desde o malfadado ano de 1968, quando lançou “Sol dos Cegos”, e até agora, vem palmilhando essa estrada pedregosa em que vivemos, nos lançando de volta a nós mesmos, nos ensinando a ouvir a beleza e o veneno da língua brasileira.

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